17.11.09

O espetáculo A Porta

A história de uma noite de insônia de Gregor perpassada por pesadelos confirma que o que salta neste espetáculo é o contraste. Assim, é da mesma maneira que A Porta apresenta a comicidade da máscara em visita ao universo kafkiano. Neste encontro nasce um tipo de humor que tira sua força do sem sentido, do “nonsense”, da brincadeira com o absurdo. Ao mesmo tempo, o universo de Kafka gera imagens que conduzem este humor para uma atmosfera mais onírica. Como resultado o riso e a força das imagens unem-se conferindo a tônica do espetáculo.

A atmosfera noturna da cena é construída com o palco recortado por poucas zonas iluminadas. O jogo de luz e sombra apresenta de início um quarto em que se passam as noites de insônia. Porém, o mesmo quarto torna-se o lugar onde se desenvolverá a narrativa dos pesadelos de Gregor. A iluminação recortada vai aos poucos oferecendo o contorno do espaço de cena e o que vemos são pedaços da consciência de Gregor que irão se fundir, se sobrepor e se contrapor.

Na criação desta atmosfera a música composta diretamente para o espetáculo tem função fundamental. Por se tratar de um espetáculo de máscaras inteiras, portanto sem fala, exploramos fortemente a sua sonoridade. Assim, a trilha acompanha o desenvolvimento da ação, suprindo as intenções e atmosferas que a ausência de falas poderia causar. Trata-se de uma composição minimalista que por vezes ganha um contorno melódico instaurando o clima da cena. Além disto, variados efeitos sonoros são utilizados para criar um ambiente fortemente sensorial e expressar o caráter fantástico presente no espetáculo.

Mas grande parte desta forte composição imagética do espetáculo fica a cargo do figurino. Este compõe, junto com a máscara, a caracterização fantástica das personagens. Trabalhado com enchimentos, sobreposição de materiais e tons mais escuros, segue a linha principal da encenação ao dialogar com o universo dos quadrinhos. Vale destacar que os figurinos de A Porta foram criados por Eliseu Weide, figurinista que trabalha com importantes produções européias de ópera e teatro incluindo Berliner Ensemble.

Com todos estes elementos, fica claro que a orientação do espetáculo A Porta foi para a construção de uma obra singular na atmosfera criada com as imagens kafkianas, sem deixar de ser ao mesmo tempo comunicativo e divertido no jogo estabelecido com as máscaras.

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