15.8.10
Passagem pelo Festival de Teatro de Campo Grande/ MS
No Festcamp conhecemos o Grupo Teatro Pingo D'água, da cidade de Cordeirópolis/SP, que viajou quinze horas de ônibus para chegar ao festival e, já em Campo Grande, foi direto ao teatro para ensaiar a tarde toda. Os artistas passaram duas horas sobre o palco se apresentando, jantaram e se arrumaram a fim de partir para mais quinze horas de viagem de volta. Eram quase trinta artistas extremamente engajados. O espetáculo, um pouco longo, dava a impressão de que os atores não queriam deixar o palco. Ao saber desta história entendi o por que. A palavra “amador” revelou todo o seu sentido positivo.
Amadores eram também todos os envolvidos na organização do evento. Verdadeiros amantes do teatro, levantando um festival com uma força herculínea, apesar das adversidades. Campo Grande não possui uma tradição teatral. O estado de Mato Grosso do Sul, criado em 1977, está fora dos circuitos culturais. O público não está acostumado a ir ao teatro e, assim como em outras cidades brasileiras, aposta encontrar qualidade em espetáculos de atores globais, ditos profissionais, que visitam Campo Grande para ganhar dinheiro em época de cancelamento de contrato.
Embasbacado com tamanha entrega de todos nós, os amadores, passei a me perguntar qual o objetivo de um festival de teatro. Nós também, da Cia Troada, uma cia amadora que é, perdemos dinheiro para poder apresentar em Campo Grande. Por que? Ao final do espetáculo A Porta, encontrei um casal de senhores que estavam assistindo a todos os espetáculos do festival. Emocionados, agradeceram a ida do espetáculo até eles. Fiquei feliz em fazer teatro para um público amador.
Assim como os primeiros exploradores a chegarem naquela terra, estávamos todos juntos, amadores, abrindo com o facão uma trilha por onde passar uma maior humanização e sensibilidade. O Festicamp está em sua quarta edição, espero voltar em 2030 para acompanhar o seu desenvolvimento. Que o festival cresça e possa refinar a sua curadoria, sua formação de público, mas que mantenha este espírito de congregação, próprio dos amadores e fique longe da possibilidade de se tornar apenas mais um evento na agenda da cidade. Obrigado Campo Grande por ter nos recebido tão bem.
Vinicius Torres Machado diretor e dramaturgo da Cia Troada.
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Um comentário:
Adorei seu texto, lembra o de um geógrafo ao pisar em terras desconhecidas!
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